terça-feira, 16 de setembro de 2014

Korah - Paixão Ilusória


"A paixão é o sentimento mais traiçoeiro que existe. Ao mesmo tempo que planta pistas falsas em seu caminho, escurece sua visão para não vê o óbvio!"

Ao sair do Castelo de Espelhos, e daquela comunidade, com vergonha de olhar nos olhos de qualquer um, Korah fez questão de deixar essa frase bem evidente em uma pedra frondosa com o seu próprio sangue, destinada a a qualquer outro viajante que cruzasse aquele caminho.
Pois bem. Mas uma aventura de nosso nobre guerreiro inicia-se logo após de sua visita às profundezas aquáticas. Meses passaram desde sua ultima peripécia, não lhe doía mais o ferimento causado pelas rochas fluviais, muito menos aqueles causados pelos chicotes do Reino anterior, tinham se tornado feridas cicatrizadas, apenas marcas de uma história cheia de experiências e dores. Agora desprendido da margem do rio resolveu partir para a estrada comercial. Abandonando também a floresta que tanto lhe favoreceu. Partiu agora rumo a uma nova direção, não sabia ao certo o que lhe aguardava, mas seu sonho era mais forte que qualquer desilusão.
No meio da estrada encontrou um vilarejo onde pareciam ser receptivos. Aquele jovem logo fez amizades, conheceu pessoas novas, pôde mudar suas roupas que com o tempo já estavam rasgadas e ingressou em uma banda local. Era muita diversão, muita farra, muita tranquilidade, uma nova vida para aquele guerreiro. "Parece que encontrei meu lugar!" Pensava nosso herói, em meio a risos e brincadeiras. Até que se ouve uma trombeta. Silêncio total. Todos se ajoelham perante a carruagem real que passara. Enquanto passava ele foi informado pelo seu amigo do lado que aquela era a família real: o rei, a rainha e seus três filhos. Duas belas donzelas e o mancebo mais novo. Justamente nessa hora o vento bateu levantando o pano que cobria a janela da carruagem, expondo o rosto daquelas duas damas. Paixão à primeira vista. E se não bastasse, ainda pela mais velha! A próxima na linha sucessória do rei.
Korah, movido pela coragem procurou opções com os seus amigos para se aproximar dela. 
-Impossível - falou Nobert - a forma que o rei os cria é bastante rigorosa, sem espaços para qualquer contato emocional, principalmente com súditos.
- E o que fazem de formas tão regradas?
- Elas, aulas particulares com uma tutora; ele, aula de luta, mas está sem ninguém, pois o ultimo teve que partir daqui.
Estava aberta a brecha que ele tanto queria para se aproximar! Foi, se inscreveu, foi aprovado e começou a lecionar ao príncipe.
Era sempre um professor prestativo, não queria dá margem de erro a boa impressão, mas no fim de cada aula, quando suas irmãs o iam buscar, ele perdia toda a concentração e não conseguia parar de olha-la.
O garoto, por ser muito novo era ingênuo e não percebia, a mais velha, a amada, por ter aquele ensino rígido, e está interessada em um nobre príncipe, resistia a qualquer sentimento pelo nobre guerreiro, querendo honrar a ideologia do pai, mas a do meio percebeu e admirou o esforço que Korah estava fazendo a fim de conquistar sua irmã.
Certo dia, Diana, a princesa do meio, ao buscar só o irmão, se aproximou dele e, de forma discreta, o induziu a falar sobre seus sentimentos. Ele havia sido descoberto. Não teve alternativa que não fosse falar. Ela sorriu e prometeu ajuda-lo a conseguir. Dia após dia, mês após mês, a amizade entre aqueles dois foi crescendo e por mais que não quisesse a princesa Diana apaixonou-se pelo herói, mas esse estava perdidamente apaixonado pela sua irmã.
Esse ciclo teve um triste fim no dia do aniversário do príncipe caçula.
Sendo Korah convidado para a festa real foi alertado pelo amigo Nobert que aquele castelo guardava segredos e enigmas que poderiam levar os despreparados a morte. Nosso herói ficou em alerta, mas não sabia ao certo o que lhe aguardava.
Tudo estava indo bem, até que ouviu a voz parecida com a de Susana, sua amada, a princesa mais velha, lhe chamar e ele seguiu até ficar entre duas direções: À esquerda tinha uma escada que levava ao porão, e à direita ao sótão. Guiado perdidamente pela voz seguiu para direita, mas na metade da escada ouviu um apelo vindo de trás: "Não!" - Era Diana. - Não entre aí, o que você ouviu é uma ilusão.
Ao mesmo tempo dentro do compartimento superior ouvia-se a voz idêntica a de Susana: - Entre Korah, me arrependo de nunca ter te dado uma chance. Que tal recomeçar?
Ele parou. A quem ouvir? Diana, com os olhos cheios de lágrimas, gritava incessantemente, mas a voz lhe parecia muito real, a proposta verdadeira e a tonalidade atraente.Entre a amizade e a paixão, resolveu partir em direção do desconhecido, correu em direção da voz, com todo seu ímpeto e entusiasmo. 
Ao entrar, uma cena linda! Susana, vestida com um belo vestido e uma tiara de flores, abria seus braços e chamava-o. Seus olhos encheram de lágrimas, ele disparou em direção a ela. Seus sonhos nascidos na cidade natal de governar um reino, seu passado sofredor deixado para trás, seu futuro como rei, sua idealização, tudo tão próximo de se acontecer, faltavam três passos, dois passos, um passo, e chegou. 
Mas o que é isso? Ele não se encostou a um corpo, transpassou aquela imagem e a força do impacto estraçalhou o vidro da janela. Uma janela no segundo andar do castelo.
Enquanto caia pensava: que besteira foi que fiz? Porque não ouvi aquela que gastou tanto tempo ao meu lado? Será se o que Diana sentia por mim era apenas uma amizade? E aquelas lágrimas em sua face?
Quando caiu e sentiu cada corte ocasionado pelo vidro que estava em seu corpo ele repetia: que besteira eu fiz? Cada pessoa que se aproximava para vê o corpo ao chão ouvia-se: que besteira eu fiz? Quando os médicos chegaram para cuidar dele, para qualquer pergunta feita ele respondia: Que besteira eu fiz? Ao ser carregado até o hospital deu tempo de olhar para cima e vê Diana chorando, não suportando aquela cena. “Será se um dia irá me perdoar?” Pensava ele ao perceber quem verdadeiramente merecia mesmo seu amor.

"A paixão é o sentimento mais traiçoeiro que existe. Ao mesmo tempo que planta pistas falsas em seu caminho, escurece sua visão para não vê o óbvio!"
Ao sair do Castelo de Espelhos, e daquela comunidade, com vergonha de olhar nos olhos de qualquer um, Korah fez questão de deixar essa frase bem evidente em uma pedra frondosa com o seu próprio sangue, destinada a qualquer outro viajante que cruzasse aquele caminho.

"Conhecer a si mesmo." Essa é uma expressão que a paixão não permite que você viva, pois ela retira de ti todo o senso de lugar, toda noção do perigo e até mesmo da falta de reciprocidade que está tendo. A melhor coisa é aprender com os erros dos outros, mas se tomastes o caminho mais difícil e precisastes sofrer por este mal para aprender a tomar cautela, pelo menos aprenda. Repasse o que aprendeu, pois a decepção provinda de uma ilusão é perigosa, e pode levar a muitos a desilusão.

Filipe O. Concercio S.
Imagem: Reprodução/Internet

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